Especialistas começam a prever que a demanda da China por petróleo poderia chegar a um teto antes do previsto, uma vez que a segunda maior economia do mundo passa por uma mudança estrutural, guiada pelo Estado por meio de medidas como o incentivo à venda de veículos movidos a "novas energias".
As tendências de consumo da China, inevitavelmente, afetam as perspectivas mundiais do mercado de petróleo mundial.
A possibilidade de que a demanda chinesa por produtos petrolíferos atinja um pico antes do imaginado tem ficado mais visível nos dados mensais de importação da Administração Geral Alfandegária da China, que mostraram seis declínios consecutivos nos meses até outubro 2024, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
As importações de petróleo em todo o ano de 2024 encolheram 1,9% em comparação ao ano anterior, o primeiro declínio anual nas últimas décadas, sem levar em conta o período da pandemia.
Em reação a essa queda na demanda, os contratos futuros do petróleo do tipo West Texas Intermediate (WTI) passaram a estar em torno a US$ 70 por barril.
No curto prazo, a demanda por petróleo costuma ser determinada pelos ciclos econômicos e, no médio e longo prazo, por mudanças estruturais, como melhoras na eficiência energética.
Segundo alguns especialistas, a atual queda na demanda chinesa não pode ser atribuída apenas à desaceleração da economia do país. De acordo com Kieran Tompkins, economista da firma de análises econômicas Capital Economics, no Reino Unido, a China está entrando em uma era de queda na demanda por petróleo. Li Xuelian, analista sênior do Marubeni Institute, um centro de estudos em Tóquio, acredita que a demanda por petróleo na China pode já ter atingido o teto.
A Agência Internacional de Energia (AIE) havia previsto que a demanda chinesa por petróleo bruto chegaria ao ápice por volta de 2030. Caso o declínio de 1,9% nas importações de petróleo em 2024 não tenha sido um fenômeno isolado, a China pode passar a depender menos do petróleo em uma velocidade muito maior do que a prevista pela AIE.
Há evidências que corroboram o cenário de "declínio na demanda por petróleo". Um dos fatores é a rápida disseminação dos chamados veículos de nova energia (VNEs) na China, como os veículos elétricos (VEs). As vendas de VNEs começaram a superar as de carros movidos a gasolina em meados de 2024. A China possuía 11,43 milhões de estações de abastecimento de VEs, segundo números do fim de setembro, cerca de 50% a mais do que 12 meses antes, resultado de iniciativas públicas e privadas para instalá-las.
O predomínio cada vez maior dos VEs provoca uma redução drástica na demanda por petróleo na China, dado que combustíveis para transporte, como gasolina e diesel, representam quase metade da demanda total por produtos petrolíferos no país.
Além disso, o governo chinês começou a reduzir a capacidade de refino de petróleo do país, uma das maiores do mundo. O plano de ação de eficiência energética e de redução de emissões de carbono para 2024-2025, lançado em maio do ano passado, prevê reduzir a capacidade de refino para menos de 1 bilhão de toneladas por ano até o fim de 2025, por meio da fusão das operações de refinarias.
O que está por trás do aumento dos esforços chineses para reduzir sua dependência do petróleo?
O governo sustenta que está promovendo uma política de neutralidade nas emissões de carbono. A postura, contudo, é incoerente: o consumo e as importações de carvão estão em alta, e o carvão emite mais gases causadores do efeito estufa por unidade de energia do que outros combustíveis fósseis, como o petróleo.
"A China almeja fortalecer sua capacidade local de produzir fontes de energia renováveis e outras [fontes], como uma estratégia de segurança energética para se proteger de ameaças dos EUA e de outros países", disse Mika Takehara, chefe da divisão de pesquisas e análises da Japan Organization for Metals and Energy Security (Jogmec).
A China depende das importações para 73% de seu consumo de petróleo. No caso do gás natural, a proporção é de 40% e no de carvão, de 7%. Essa forte dependência torna a China temerosa quanto a possíveis interrupções da cadeia de suprimentos de petróleo pelos EUA em eventuais situações de emergência. Ao mesmo tempo em que defende uma política de redução das emissões de carbono, a China tenta se tornar mais autossuficiente em energia, segundo Takehara.
O enfraquecimento estrutural da demanda chinesa impacta as cotações do petróleo. A China foi a maior responsável pelo crescimento da demanda por petróleo nos anos 2000 e poucos analistas preveem que a Índia possa assumir esse papel, pelo menos, por enquanto.
Agora que os esforços da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para manter os preços atingiram o limite, "é possível que preços do petróleo na faixa de US$ 40 a US$ 50 por barril venham a ser considerados normais", disse Kazuhiko Fuji, pesquisador do centro de estudos Research Institute of Economy, Trade and Industry.
Nikkei Asia